quinta-feira, 21 de abril de 2016

Adeus.

Dormirei, agora, um sono do qual não há indícios de que acordarei.
Num clique ligeiro eu partirei num sono sem sonhos e ninguém mais me poderá ver ativo.
Este sou eu retomando o controle.
Este sou eu planejando o futuro.
Este não sou eu estagnando o movimento.

Este sou eu dizendo adeus a essa fonte.
The Truth dormirá.

Estarei acordado em outro lugar.

La Nouvelle Douleur va augmenter!

(a quem interessar, meus escritos viverão em outro domínio, por comentário ou mensagem direta, o domínio pode ser requirido.)

segunda-feira, 11 de abril de 2016

ESPELHO MÁGICO (1951)


I- Da observação
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...

XII – Das utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!

XIII- Do Belo
Nada, no mundo, é, por si mesmo, feio.
Inda a mais vil mulher, inda o mais triste poema,
Palpita sempre neles o divino anseio
Da beleza suprema...


(Mário Quintana.)

quarta-feira, 16 de março de 2016

Hino aos Coalas.

Como ousas vir a mim sem ao menos pedir licença? Entrar invadir pilhar e dominar todo o espaço, pintar as tuas cores pelos móveis e espalhar o teu sangue e suprimir minhas dores, as dores que eu cultivava com tanto apego.
E sem pregar o apego me apeguei à tua presença, como numa Síndrome de Estocolmo, apaixonei-me por minha algoz, entregando-me assim à guilhotina que me cativou num vislumbre, e que sem direito de copiar a Exupery, mas parafraseando-o, se ela vem, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três começarei a ser feliz.
E sou, antes tão pobre, hoje o maior dos homens.
Ah, que rico é o coração de quem ama!
Que nobre é a alma de quem tem sede de viver sem receio de morrer. E até na morte te abraço, refém da sobre-vida com que punes minha antiga sede por partir - com ti não morro, renasço a cada escolha.

(Para Juliana.)

quarta-feira, 9 de março de 2016

A Liberdade!
            Ah, a liberdade!
    Livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda. A liberdade alimentada pelo sonho humano é aquela onde todos, além de livres, possuem direitos. E a liberdade sem direitos... é a liberdade do mais forte de se alimentar, impondo-se sobre o direito do mais fraco de sobreviver!


(Cecília Meireles.)

Eu te amo.

Se ele partisse, que seria de mim, pobre sem nenhum caráter como Macunaíma, incapaz de me encontrar sozinho nessa terra de sombras que é o mundo? Pois dele herdei os gostos da cultura das letras e películas, e sem ele seria mais um desalmado perdido pelas ondas do vazio existencial. Com ele conheci do King ao Kubrick, do preto ao branco e do bom ao mau gosto.
Então que egoísta ele é, enforcando-se assim de mim sem nem me deixar pistas do que sentia, sem nem me avisar da dor que o seguia, sem nem mesmo sussurrar pra mim qualquer pedido de socorro, enquanto eu julgava-o tanto melhor, da última vez em que o vi. Enquanto eu acreditava que ele se recuperava dos males que o seguem sem deixar descanso.

Dizem que a má sorte persegue os grandes, mas nem sempre persegue só os que aguentam. Então desejo que aguente.
Sem ele me sinto pouco.
Por isso desejo que volte.

Tem mais pra ti nesse mundo escuro, irmão. Fica mais um tempo que eu divido um fumo contigo.
Tu aguenta.
Vai, por favor, aguenta.
(Para Marlon.)

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Age Lossless (2).

Essas canções, conversas internas e externas, essas melodias que se repetem num loop infinito, essa voz duplicada e esses dejá vus, são todas o tempo me engolindo; já nem concordo em número, gênero e graus. O tempo está me engolindo. Está engolindo a todos.
O sangue é denso, mas liquidificado entre a saliva dele, eu vejo a saliva dele escorrer, vermelha e crua, o tempo a engolindo também. O tempo engolindo a saliva ensanguentada dele há mais de vinte anos, e a canção se atropela e se repete, ecoa. Ele cospe sangue, e eu não sei como ajudá-lo. Meu Deus, ele cospiu sangue e vomitou a própria essência, e eu o encarava, estático.
E estamos perdidos em alguma sala escura em 1997 ou antes, e o barulho lá fora assusta.
Está tudo na cabeça?
"Tá tudo na tua cabeça."
"Então por que tu tá cuspindo sangue?"
É o jazz, Windows 95, reverb e aqueles filmes esquisitos que passavam de madrugada. O chão xadrez da cozinha e toda a vida que viria antes de sermos consumidos por essa loucura que te veste de verde e me veste de preto. Até tu encontrar alguém pra consumir e eu encontrar alguém pra me salvar.

Não é tristeza, é nostalgia.


(À parte: vem cá e me liberta.)


[ouvir ao som de: https://www.youtube.com/watch?v=YcsYSJwewWk]

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Ridendo Castigat Mores

O "humor", assim definido, tem servido de canalizador de ofensas e ódios reprimidos, opiniões preconceituosas que normalmente, sem uma máscara de riso, não poderiam ser expostas. Eu estou, honestamente, cansado desse humor, compreendendo o cansaço precoce de um velho amigo diante dessa postura de humilhação. O humor escárnio, humor sangue, humor furor, humor cansado. Que desgasta.
A vida adulta é assim? É rir, humilhar e escarnecer de alguém valendo-se do artifício do bom-humor para que não hajam represálias? Afinal, você "tem que saber brincar se quiser fazer parte do clube". A crítica ao riso é construtiva quando digo que machucar alguém pra valer o riso é na verdade destrutivo, e a velha premissa de que "perder o amigo vale não perder a piada" demonstra uma evidente falha de caráter. Quem diz isso perderia o amigo pra não perder a piada. Quem diz isso já perdeu um amigo sem perder a piada.

O "humor", assim definido, deveria ser um mecanismo de escape emocional sem precisar machucar ninguém.